Meu nome é
Fabiano sou um homem rude, típico vaqueiro do sertão nordestino. Não ia para
escola, não me dou bem com as palavras, e às vezes me vejo como um animal.
Empregado em uma fazenda, penso na brutalidade com que meu patrão me trata.
Admiro o dom que algumas pessoas possuem com a palavra, mas assim como as
palavras e as ideias me seduziam, também cansavam-me.
Não
conseguia se comunicar direito com as pessoas, entro em apuros em um bar com um
soldado, que me desafiou para um jogo de apostas. Ele ficou irritado por perder
o jogo, e me provoca, insultando de todas as formas. Aguento tudo calado, pois
não conseguia me defender. Até que por fim acabo insultando a mãe do soldado e
indo preso. Na cadeia penso na família, em como acabou naquela situação e acabo
perdendo a cabeça, gritando com todos.
Sinha
Vitória é a minha esposa. Mulher cheia de fé e muito trabalhadora. Além de
cuidar dos nossos filhos e da casa, me ajuda no trabalho. Esperta, sabia fazer
contas e sempre me avisa sobre os trapaceiros que tentam tirar vantagem da minha
falta de conhecimento. Ela sonha com um futuro melhor para nossos filhos e não
se conforma com a miséria em que nós vivemos. O sonho dela é ter uma cama de
fita de couro para dormir. Na
miséria e não dávamos muita conta do que acontece no nosso redor, vivia os dois
meninos. O mais novo é a minha cara um exemplo. Já o mais velho queria aprender
sobre as palavras. Um dia ele ouviu a palavra "inferno" e ficou
intrigado com seu significado. Perguntou pra mulher o que significava, mas ela
não sabia. Então ele veio me perguntar,
mas eu nem ligava. Perguntou pra mulher de novo, e ela le bate. Sem ter ninguém
que o entenda e sacie sua dúvida, só consegue buscar consolo na nossa cadela
Baleia. Um
dia a chuva chega e nós ficamos todos em casa ouvindo as minhas histórias. Histórias essas que eu nunca tinha vivido. Em
meio a essas histórias inventadas, eu pensava se as coisas iriam melhorar. Para
o filho mais novo, as sombras projetadas pela fogueira no escuro me deixava grotesco.
Já o mais velho ouvia as minhas histórias com muita desconfiança. O natal chegou e nós fomos à festa da cidade.
Eu fiquei embriagado e me sentia muito valente, segundo minha esposa e só
pensando em se vingar do soldado que me colocou atrás das grades. Já estava cansado,
e fiz das minhas roupas um travesseiro e dorme no chão. Minha esposa também estava
cansada de cuidar de mim embriagado e ter que olhar as crianças também. Em um
dado momento, ela toma coragem para fazer o que mais estava com vontade:
encontra um cantinho e se abaixa para urinar. Satisfeita, ela acende uma
piteira de barro e fica a sonhar com a cama de fitas de couro e um futuro
melhor. De repente eu vejo o estado em que se
encontrava Baleia, com pelos caídos e feridas na boca, e acho que ela esta
doente. Tive que tomar uma decisão, sacrificar a cadela. Minha esposa pega os
meninos, que não queriam que a cadela fosse, mas não havia outra escolha. Dei o
primeiro tiro e acerta o traseiro de Baleia e ela ficou com as patas inutilizadas. Ela sabia
que o fim estava próximo ee tentou me morder. Mas ela me via como um
companheiro de muito tempo. Em meio ao nevoeiro e da visão de um paraíso dos
cachorros, onde ela poderia caçar preás à vontade, ela morreu sentindo dor e
arrepios. E
assim a vida vai passando para nossa família sofredora do sertão nordestino.
Até que um dia, o céu extremamente azul e nenhuma nuvem à vista, os animais em
estado de miséria, eu decido que a hora de partir novamente havia chegado.
Partimos de madrugada largando tudo como haviam encontrado. A cadela Baleia era
uma imagem constante nos meus pensamentos. Durante a caminhada eu e minha
mulher fazíamos planos para o futuro.